DIA MUNDIAL DAS ÁREAS ÚMIDAS: CELEBRAÇÕES NO ENTORNO DE UM DOS SÍTIOS RAMSAR NO BIOMA PANTANAL - Produto - Biosfera do Pantanal
Campo Grande-MS, 21 de November de 2024 Campo Grande-MS, 21 de November de 2024

Jovens RBPAN


DIA MUNDIAL DAS ÁREAS ÚMIDAS: CELEBRAÇÕES NO ENTORNO DE UM DOS SÍTIOS RAMSAR NO BIOMA PANTANAL

Em Cáceres – Mato Grosso, Pantanal a iniciativa dos Jovens da Reserva da Biosfera do Pantanal (JovensRBPAN), conjuntamente com o Instituto Gaia realizou no dia das Áreas Úmidas ações que visaram a visibilidade para o tema.


Celebrado no dia 2 de fevereiro o dia Mundial das Áreas Úmidas tem como seu principal objetivo o estimulo da reflexão e proporcionar o reconhecimento do mundo sobre o papel primordial das áreas úmidas para o todo o planeta e para a vida humana. A data foi estabelecida pela Convenção de Ramsar desde 1971 em uma cidade chamada Ramsar localizada às margens do mar Cáspio no Irã e portanto o nome da convenção. É um tratado intergovernamental e que propõe marcos para ações e cooperações entre países com o intuito de promover a conservação e o uso racional de áreas úmidas no mundo. (MMA).

São classificadas como áreas úmidas toda a extensão de pântanos, charcos e turfas, várzeas, rios, pantanais, estuários, manguezais e mesmo os recifes de coral. As áreas úmidas são ecossistemas de elevada importância ecológica e imprescindíveis para a manutenção dos estoques de água do mundo, o equilíbrio climático e fornecedor de serviços ambientais fundamentais para a sociedade em geral. O Pantanal como a maior planície alagável contínua do planeta, abrangendo três países – Brasil, Paraguai e Bolívia.

As áreas úmidas representam atualmente 6 % da superfície terrestre, porém têm sofrido ao longos dos anos processos agressivos de degradação e estão em movimento de desaparecimento. Até três vezes mais do que as florestas. Perder essas áreas é afetar o modo de vida dos seres humanos e de milhares de espécies que dependem diretamente dessas áreas para sua sobrevivência.

Os países signatários da Convenção de Ramsar devem definir ao menos uma área úmida de seus territórios para ser incorporada à Lista de Zonas Úmidas Internacional que, assim que aprovada por um corpo técnico especialista, recebe o título de Sítio Ramsar – no Brasil há um total de 27 áreas brasileiras nessa categoria. Com o título de Sítio Ramsar há a possibilidade de obter apoio internacional para o desenvolvimento de pesquisas, bem como a proposta fundos internacionais que podem financiar projetos de cooperação internacional. O Brasil assim como países signatários tem entre os compromissos o de assegurar as características ecológicas dos sítios, os aspectos da biodiversidade e os processos que os preserva.

Entre os vinte e sete Sítios Ramsar no Brasil está o Parque Nacional do Pantanal do Mato-grossense que foi incluído em 1993 na lista de Sítios Ramsar, a Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal em 2002 e mais recentemente em 2018 a Estação Ecológica Taiamã (Unidade de Proteção Permanente) localizado no Pantanal, bacia do alto rio Paraguai, no município de Cáceres/MT.

Em Cáceres – Mato Grosso, Pantanal a iniciativa dos Jovens da Reserva da Biosfera do Pantanal (JovensRBPAN), conjuntamente com o Instituto Gaia realizou no dia das Áreas Úmidas ações que visaram a visibilidade para o tema. A iniciativa JovensRBPAN tem como objetivo dar voz à juventude, sobretudo a pantaneira e a todos os que amam o Pantanal e propõem o engajamento da proteção do Pantanal. Os atos foram realizados no dia 02 de fevereiro de 2023, com a presença de Organizações, como o Instituto Gaia, IFMT, Movimento LGBTQIAP+, EMPAER (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), SEMA (Secretaria de Estado e Meio Ambiente), UNEMAT (Universidade do Estado do Mato Grosso) e PPGCA (Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais). Foram realizadas ações com o intuito de debater e alertar  sobre a preservação das áreas úmidas, em forma de roda de conversa, e worshop sobre os resultados do Mapbiomas e encerramento com uma atividade com estudantes de Cáceres, promovendo a Educação Ambiental e observação de pássaros na parte central da cidade. Assim foi celebrado o Dia Mundial das Áreas Úmidas na região de um dos Sítios Ramsar.

Roda de Conversa e Restauração

O Secretariado da Convenção de Ramsar sugere a cada novo ano um tema focal para as ações que serão desenvolvidas pelos países membros da Convenção. Este ano o tema escolhido é “É a hora da restauração das áreas úmidas”, que destaca a relevância da preservação destas áreas, que são primordiais para as funções ecológicas e para assegurar a saúde e a proteção das comunidades que dependem diretamente das áreas úmidas.

  A primeira atividade que marcou as ações do Dia das Áreas Úmidas foi articulada pelo Instituto Gaia Pantanal, parceiro do Programa Humedales sin Fronteiras, no período da manhã,  ressaltando a importância de Projetos como o Restaura Pantanal – Projeto de Restauração da Biodiversidade, Conservação das Águas e Prevenção dos Incêndios das Áreas Úmidas do Pantanal Estação Ecológica de Taiamã. A área como informado anteriormente está entre os vinte sete Sítios Ramsar registrados no Brasil e é uma área de proteção destinada estritamente para ações de preservação, pesquisa e educação ambiental e está localizada em Cáceres. O projeto também desenvolve ações em áreas de nascentes e em fragmentos do Rio Paraguai como ressalta a coordenadora do projeto, professora Drª Solange Ikeda Castrillon, da Unemat, que explicou que há a necessidade da participação social nas ações de restauração do Pantanal, envolvendo toda a sociedade a contribuir nas propostas de restaurar o Pantanal.

As discussões abrangeram desde a memória de moradores locais sobre as mudanças observadas no Rio Paraguai, com pontos de água que desapareceram e a diminuição das espécies de peixes, meio de sustento de muitos pescadores artesanais e profissionais da região de Cáceres. Foram pautas do diálogo a proteção das áreas úmidas e a consequência das mudanças climáticas sobre essas áreas com destaque para a realidade dos desafios enfrentados pela região da Bacia do Alto Paraguai que tem como uma das ameaças a instalação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e a construção dos Portos e a instalação da Hidrovia Paraguai-Paraná (HPP) no município de Cáceres.

Como pontuado por Clóvis Vailant – geógrafo e colaborador do Instituto Gaia Pantanal:

“As áreas úmidas com destaque  no Pantanal são como uma grande “caixa d’agua”, prestando um conjunto de serviços ambientais e com a sua diminuição pela ação humana por meio do desmatamento, perda de nascentes, quer seja até por drenos nas próprias áreas úmidas. Essas águas que estavam ali sobretudo acumuladas, reservadas para entrarem no momento correto no ciclo das águas acabam não ficando no ambiente, passando a ser uma água ofertada por ciclos incorretos e por consequência há a perda desse recurso, provocando  chuvas torrenciais de forma descontrolada.” 

Nas falas dos presentes foi possível identificar o afeto da comunidade local pelo rio e seu entorno, transformando em um local que precisa ser cuidado para as próximas gerações. Finalizando com um piquenique com café, bolo, suco, pães e frutas e com uma apresentação do artista local Pedro Garcia com a música “Sobradinho” composta por Sá e Guabyra, cujo letra é uma crítica à construção de usinas hidrelétricas e barragens no Nordeste enquanto os presentes formavam um círculo de esperançar, fazendo uma dança circular coletiva de tradição humana ancestral  que tem como objetivo a reunião do grupo e o fortalecimento de valores em comum como compreensão, empatia e sentimento de pertencimento. A letra muito atual dialoga ainda com a questão das mudanças climáticas de ao dizer “o sertão vai virar mar, dá no coração; e o medo de algum dia o mar também vire sertão” nos lembra dos perigos que enfrentamos das constantes mudanças ambientais.

Workshop e Resultados do Monitoramento pelo MapBiomas

Com um workshop realizado pela mestranda em Ciências Ambientais pela UNEMAT e bolsista Peld DArp Pantanal  a bióloga Mariana Theodoro Brito, se fez o compartilhamento dos resultados do curso “Territórios de Reservas da Biosfera, Geoparques Mundiais e o Monitoramento pelo MapBiomas – Brasil” que teve como objetivo capacitar técnicos e parceiros do sistema de gestão das Reservas da Biosfera e Geoparques Mundiais reconhecidos pela UNESCO no Brasil, visando a melhor utilização das informações e tecnologias do MapBiomas nos processos de monitoramento, conservação e enfrentamento da crise climática, bem como na difusão e partilha de conhecimentos e informações sobre estes territórios.

O curso foi promovido pelas Reservas da Biosfera com parceria da Rede Mapbiomas, contando com apoio direto dos Escritórios UNESCO do Brasil e de Montevidéu. No workshop, portanto, foram compartilhadas informações específicas sobre a Reserva da Biosfera do Pantanal, através da observação dos mapas gerados (como o de vegetação, uso do solo, superfície de água e limites territoriais).

Através da observação dos mapas os Jovens da Reservas da Biosfera do Pantanal puderem discutir os impactos de degradação no Bioma Pantanal. Perda de vegetação nativa e os assoreamentos no Rio Paraguai, além de mencionar o CAR cadastro único Rural do estado de MT, e suas pendências.

Educação Ambiental com a Nova Geração

“É desde pequeno que se aprende a semear a semente – planta, água” O Dia Mundial das Áreas Úmidas também foi celebrado com um plantio envolto por temas da Educação ambiental na escola de ensino local - IEC (Instituto Educacional de Cáceres), na qual os Jovens da Reserva da Biosfera realizaram uma palestra e diálogo com os alunos da escola, compreendendo desde o 3º ano do ensino infantil até o 9º ano do ensino básico. Participaram da palestra e plantio  aproximadamente 160 crianças da instituição. Dentre os assuntos da palestra, houve notoriedade nas características marcantes do bioma Pantanal e da necessidade da sua preservação e restauração. O protagonismo jovem e a importância de união e mobilização no enfrentamento das ameaças à manutenção da vida e da biodiversidade foi um dos focos centrais da palestra realizada na escola.

Também foi abordado o conceito de Reserva da Biosfera e como acontece a atuação do grupo de jovens RBPAN e a importância do Pacto pela Restauração do Pantanal, que afirma o papel decisivo dos povos originários e da comunidade tradicional na manutenção das áreas úmidas. Ao final, em símbolo de resistência se formou um círculo com todas as crianças e de mãos dadas todos se comprometeram na proteção e no cuidado do Pantanal, selando um pacto simbólico com a nova geração. Uma muda de jenipapo (jenipa americana) foi plantada no pátio da escola, simbolizando a renovação da esperança e o cuidado com a vida.

É um dos intuitos dos Jovens da Reserva da Biosfera do Pantanal a partir do ano de 2023 realizar ações mais diretas junto à comunidade escolar pois entende-se que a compreensão do nosso bioma e a busca em preserva-lo parte de um trabalho de base e com uma inspiração afetiva. E a Educação Ambiental possui essa ferramenta de sensibilização e mobilização e as escolas tanto públicas, privadas, filantrópicas é um espaço de início de percepções e mesmo de amor pelo Pantanal e ao meio Ambiente como um todo que pode ser levado para a vida toda.

Birdwatching e as Áreas Úmidas

O dia ainda proporcionou ainda a atividade de encerramento a observação de aves com o biólogo e mestrando Miguel Ângelo Marques membro do Jovens RBPAN e pesquisador da PELD/DARP (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração/Dinâmicas do pulso de inundação). O programa tem como objetivo a manutenção dos estudos de monitoramento do pulso de inundação e da biodiversidade associada, do conhecimento de padrões e processos em situação de variabilidade climática. Além disso realiza o monitoramento da avaliação de padrões e processos que influenciam na dinâmica das aves em ecossistemas de áreas úmidas

 A observação foi realizada no cais da Praça Barão da cidade de Cáceres com a vista do Rio Paraguai ao final da tarde por ser um horário propício para avistamento das espécies com o uso de binóculos e considerações sobre as espécies de aves que fazem parte do bioma do Pantanal.

A observação de aves ou chamado “Birdwartching” é uma das atividades de turismo sustentável que praticada pelos amantes de aves e da natureza é um importante aliado na visibilidade de áreas naturais por conceder ao praticante não apenas o contato com os diferentes detalhes de cada espécie de ave como também entender seu papel no ecossistema. A riqueza da biodiversidade no Pantanal e em especial sua avifauna apresenta como um potencial que merece ser considerado como estratégia econômica e de educação ambiental.

As aves movimentam energia e nutrientes nos ecossistemas das áreas úmidas, participando na manutenção de árvores pioneiras e de alta relevância no bioma, por meio da dispersão de sementes, ou seja, proporcionam habitats únicos para a sobrevivência de várias espécies. E como forma de celebrar o Dia Mundial das Áreas Úmidas, os Jovens da Reserva em parceria com pesquisadores do PELD DARP promoveram a atividade de observação dessas aves nas margens do rio Paraguai no Pantanal Mato-grossense. Esta atividade permitiu uma reconexão da sociedade com a fauna local já que as aves consistem em grupo de animais de fácil detecção visual e sonora, estimulando a percepção ambiental e ocasionando sensação de bem-estar para pessoas de todas as idades.

 

Povos Originários e o Dia das Áreas Úmidas

O povo Chiquitano, habitantes da região de fronteira entre Brasil e Bolívia foi constituído a partir de um conjunto de povos indígenas aldeados no século XVII por intermédio das missões jesuíticas. Muitas vezes foram obrigados a participar em lutas políticas e diferenças culturais advindas de uma divisão territorial que não lhes contemplava. A grande maioria desse povo está na Bolívia e na fronteira. Na Bolívia, no departamento de Santa Cruz, nas províncias Nuflo de Chaves, Velasco, Chiquitos e Sandoval.

Os Chiquitanos no Brasil vivem no estado do Mato Grosso, na região da fronteira com a Bolívia, compreendo os municípios de Vila Bela, Cáceres e Porto Espiridião. A fundação do município de Cáceres, em 1778 tem a participação direta de foi 78 famílias de nativos Chiquitanos. As relações entre os residentes brasileiros e os bolivianos perpassam a questão da nacionalidade e são compartilhados por laços de afeto, parentesco e também por uma cultura em comum.

Para os membros dos Jovens da Reserva da Biosfera do Pantanal é um privilégio e honra contar com a parceria e participação dos membros chiquitanos no grupo e moram em Porto Espiridião. Aguinaldo Muquissai Massavi membro do JRBPan e atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Porto Esperidião-MT juntamente com membros da família e outros parceiros do JRBPan celebraram a importância desse dia fizeram atos simbólicos e representativos do Dia Mundial das Áreas Úmidas

 Foi realizado o plantio de mudas e ensinando as os valores da preservação. O plantio foi feito no Sitio São José na comunidade Papiro Porto Esperidião- MT, através da parceria com o STTR de Porto Esperidião, Instituto Gaia Pantanal e jovens da reserva da Biosfera do pantanal.

Para a realização das ações desse dia é  fundamental a parceria com os colaboradores que contribuíram significativamente e presença os agradecimentos do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Cáceres, Sindicato de Trabalhadores Rurais de Porto Espiridião, Laboratório de Educação Ambiental e Restauração Ecológica l- Educare UNEMAT, PROJETO RESTAURAÇÃO DE NASCENTES PPGCA e artistas cacerenses.

Como diria Manoel de Barros

 “No Pantanal ninguém pode passar régua. Sobre muito quando chove. A régua é existidura de limite. E o Pantanal não tem limites. [...]